Se você já se pegou pensando sobre um trabalho que começou e ainda não terminou, mesmo quando é hora de dar atenção para outra coisa, você experimentou o efeito zeigarnik. Esse efeito cria na sua cabeça uma urgência de voltar e terminar aquilo que ficou inacabado.
É desse efeito zeigarnik que os livros, séries, programas de TV e até jogos de vídeo game tiram vantagem, quando eles elaboram aquele “gancho” (também conhecido como cliffhanger) que deixa o público curioso por saber o que vai acontecer logo mais.
Esses projetos não finalizados continuam a influenciar sua mente, mesmo quando você tenta passar para outra atividade. Isso porque, segundo o efeito zeigarnik, temos uma tendência de lembrar mais de tarefas inacabadas do que daquelas que já estão encerradas.
O que é o efeito zeigarnik
O efeito zeigarnik se trata, portanto, de um fenômeno psicológico que faz com que lembremos de tarefas interrompidas ou incompletas com mais facilidade do que eventos e projetos que já estejam finalizados.
A explicação para esse fenômeno reside no fato de que faz parte da nossa natureza querer terminar o que começamos. Quando não conseguimos fazê-lo, sentimos um desconforto, como se algo estivesse errado. Como resultado, experimentamos um estado de tensão que nos faz prestar mais atenção àquilo que queremos acabar, acima de qualquer outra coisa.
Em resumo, temos pouco interesse em nos lembrarmos de coisas que já concluímos, mas temos uma enorme motivação em direção às coisas inacabadas, que, por isso, ocupam posição de destaque em nossa mente.
O efeito zeigarnik foi descoberto no início do século XX, por Bluma Zeigarnik, e tem sido reproduzido e verificado por meio de diversos estudos desde então.
Quem foi Bluma Zeigarnik
Como você já percebeu, o efeito zeigarnik recebeu o nome da psiquiatra e psicóloga russa que reparou no fenômeno pela primeira vez, lá na década de 1920.
Bluma Wulfovna Zeigarnik estava jantando em um restaurante e se deu conta de que os garçons conseguiam guardar detalhes de pedidos bastante complexos, mas somente quando eles ainda não estivessem pagos e encerrados.
Uma vez que tais pedidos fossem completamente concluídos, conta paga e tudo certo, os mesmos garçons eram incapazes de recapitular as informações. Zeigarnik ficou intrigada e curiosa a respeito da situação e resolveu estudar o fenômeno em seu laboratório.
Um dos experimentos foi pedir a um grupo de 138 crianças para que completassem uma série de tarefas simples, que incluíam operações aritméticas e quebra-cabeças. Zeigarnik interrompia as atividades mais ou menos na metade do processo.
Uma hora mais tarde, ela verificava o que as crianças lembravam sobre as tarefas. 110 das 138 tinham memória mais vívida daquilo que estavam fazendo quando foram interrompidas. Em um teste semelhante realizado com adultos, 90% deles também recordavam melhor as tarefas inacabadas.
Como funciona o efeito zeigarnik
Desde os experimentos de Bluma Zeigarnik, diversos pesquisadores têm replicado seus experimentos e realizado outros, para entender de onde vem e como funciona o efeito zeigarnik.
Algumas teorias giram em torno da tensão cognitiva que nasce com uma tarefa não concluída, a qual desenvolve essa necessidade de manter a tarefa em perspectiva, de forma a finalizá-la e, assim, aliviar a tensão.
A nossa memória de curto prazo é limitada, tanto em capacidade quanto em duração. A gente consegue reter poucas coisas na “superfície” e, mesmo para isso, precisamos ficar retomando a informação, para que não a percamos.
Quanto mais coisas você quiser lembrar, mais complicado fica. E isso requer um certo esforço por parte de nosso cérebro. O efeito zeigarnik é uma “ferramenta” que permite que mantenhamos o que não está pronto no nível de nossa consciência, até que tenhamos, de fato, completado o serviço.
Quando prestamos atenção a uma informação, ela se mantém em nossa memória de curto prazo. Aquela tensão cognitiva produzida pelo efeito zeigarnik serve justamente para que não esqueçamos o que ainda não cumprimos. Uma vez que esteja finalizada, a tarefa pode, então, ser “esquecida”.
Algumas pesquisas também mostram que fatores como motivação, grau de recompensa, grau de realização e até mesmo o tempo de interrupção podem influenciar na intensidade com que o efeito zeigarnik acontece.
Como tirar vantagem do efeito zeigarnik
Há pessoas que se beneficiam da motivação que essa tensão cognitiva gera, o que as impulsiona a finalizarem aquilo que começaram, promovendo, como resultado, uma sensação de realização, autoconfiança, satisfação e bem-estar – além de fomentar o desenvolvimento de hábitos positivos. Vendo por esse lado, você pode tirar vantagem do efeito zeigarnik, por exemplo:
Superando a procrastinação
O ser humano costuma empurrar para adiante tudo aquilo que parece ser enfadonho ou pesado demais. O efeito zeigarnik mostra que a chave para evitar a procrastinação é, justamente, começar.
Você pode dar um primeiro passo bem simples ou pequeno. De uma maneira ou de outra, você terá iniciado uma tarefa, mas não terá terminado. Isso vai gerar aquela tensão cognitiva, que vai ficar te lembrando que ainda há algo a ser feito. E esse desconforto vai impulsioná-lo a concluir a atividade, ao invés de ficar empurrando para depois.
Melhorando os hábitos de estudos
Se você está estudando, seja para uma prova, uma palestra ou uma apresentação, você pode se beneficiar do efeito zeigarnik. Para fazê-lo, você deve “quebrar” suas sessões de estudo em pequenos blocos.
A interrupção entre os blocos de estudo trará os pensamentos intrusos com a informação que deve ser memorizada. Isso consolidará esses dados em sua mente e eles estarão mais “frescos” quando você precisar acioná-los, de fato.
Para aplicação desse método, sugiro que você use a técnica Pomodoro para organizar seus estudos em blocos de tempo.
Limitando a multitarefa
Fazer várias tarefas ao mesmo tempo tem se mostrado um inimigo da produtividade nos dias de hoje. O efeito zeigarnik mostra que cada nova tarefa acaba por se transformar em uma interrupção do que estava sendo feito até então, causando aquele desconforto psicológico.
Assim, você pode ser impelido a estabelecer um limite razoável na sua lista de multitarefas, melhorando sua performance geral e reduzindo a carga emocional e a frustração associadas ao não cumprimento de seu planejamento semanal.
Como controlar o efeito zeigarnik
Ainda que possa ser benéfico em muitos casos, o efeito zeigarnik também pode ter um papel negativo na sua saúde mental.
Tarefas incompletas, especialmente as que levam a consequências negativas, geralmente acionam seus mecanismos de autossabotagem e alimentam pensamentos intrusivos que produzem estresse, ansiedade, distúrbios do sono e fadiga mental.
Para evitar que a tensão do efeito zeigarnik provoque esses prejuízos, você pode:
- Fazer uma lista de tarefas. Não cometa o erro de tentar guardar tudo o que você a fazer “de memória”. Faça uma lista, com todos os afazeres do dia (você pode fazer isso num planner ou num aplicativo de gerenciamento de tarefas). Inclusive, crie o hábito de anotar tudo o que vier à sua mente na hora em que acontecer (use um aplicativo de anotações para isso).
- Criar um sistema de organização. É importante que você tenha alguns “rituais”, com uma rotina matinal e uma rotina noturna bem estabelecidas. Assim, o seu cérebro entende que pode confiar no seu planejamento.
- Dar o primeiro passo. Como dito acima, o efeito zeigarnik pode ser um grande aliado contra a procrastinação. Para tanto, identifique o passo mais fácil por meio do qual você possa começar uma tarefa. Isso vai criar aquele gatilho para levar o projeto até o fim.
- Reconhecer o seu progresso. Por fim, vale lembrar que resultado muito negativo do efeito zeigarnik é a tendência de esquecermos aquilo que já fizemos. Mas não deixe de olhar para trás e enxergar tudo aquilo que você já fez. Inclusive, lembre-se da importância de comemorar cada conquista alcançada.
