Você já parou para pensar qual é o seu propósito de vida? Parece uma questão um pouco filosófica, mas no fim do dia, acredito que ela seja uma das mais práticas de todas. Afinal de contas, é a nossa razão de existir que nos move a fazer tudo o que fazemos, certo?
Refletir sobre o propósito de vida de maneira profunda pode nos fazer questionar o nosso trabalho, nossos relacionamentos e tudo que estamos fazendo.
O problema que vejo em muitas pessoas à minha volta (e as vezes me vejo nessa situação também) é querer estar no momento ideal para fazer o que gostaríamos e deveríamos fazer.
São frases como:
- Eu vou mudar de trabalho quando a pandemia acabar
- Eu vou falar o que eu penso ou sinto quando as coisas se acalmarem
- Eu vou começar o meu blog quando tiver mais tempo
- Eu vou ligar para minha avó quando for perto de uma data especial
- Eu vou dar atenção para minha família quando terminar esse projeto
Eu poderia continuar, mas só quero te mostrar que muitas vezes nos contamos pequenas mentirinhas que vão sabotando as ações que deveríamos tomar para nos tornar quem realmente queremos ser.
Por isso mesmo, eu realmente acredito que não faz sentido que esperemos o propósito de vida perfeito. Talvez ele nem exista. O que existe é o aqui, o agora e o que fazemos das nossas vidas.
O que inspirou essa reflexão
Essa reflexão surgiu depois de eu ver esse vídeo aqui da Marie Forleo entrevistando o Seth Godin, duas pessoas sensacionais que vale a pena conhecer e acompanhar:
Essa pergunta aparece logo no começo e a ideia que eles exploram é justamente essa de estarmos em um momento único onde temos uma plataforma (internet, sites e redes sociais) em que podemos alcançar milhões de pessoas “facilmente” para falar sobre o nosso propósito de vida e no que acreditamos.
Só que nem sempre vemos as pessoas buscando isso. Muitas vezes, elas só ficam à deriva, esperando a vida passar, se contando que agora não é o momento certo para perseguir seu propósito de vida por qualquer um dos motivos que eu listei acima.
O conceito de propósito de vida
O problema já começa quando pensamos no significado de propósito de vida, por si só. Parece uma ideia – um pouco maluca – de que nascemos com uma espécie de missão cósmica que já vem escrita em nossos genes e que cabe a nós descobri-la sob pena da frustração eterna caso isso não aconteça.
Mas o que sabemos, de fato, é que viemos para esse planeta por um certo período – que ninguém é capaz de prever. Durante esse tempo, veremos muitas coisas, conheceremos muitas pessoas, vivenciaremos muitas experiências.
Algumas dessas coisas, pessoas, experiências serão importantes, memoráveis e produzirão significado em nossa vida. Algumas, não. Algumas só consumirão nosso tempo – e está tudo bem também.
Portanto, quando alguém se pergunta “o que eu devo fazer com a minha vida?” ou “qual meu propósito de vida”, na verdade, ela deveria se questionar “o que eu posso fazer de útil, válido, importante ou interessante com o meu tempo que faz sentido para mim e para as pessoas à minha volta, agora?”
Não existe a hora certa
Em outros posts aqui do blog, já desenvolvi reflexões sobre o valor do nosso tempo, quando tratei da obra Sobre a brevidade da vida, de Sêneca, e há pouco, quando falei sobre a importância do senso de urgência.
Quando nos damos conta de que a prioridade nessa vida é aproveitar melhor o tempo – relativamente breve – que teremos nessa terra, percebemos que não existe momento certo ou resposta definitiva para nosso propósito de vida.
Não tem por que buscar aquele significado cósmico para sua existência. Não tem porque ficar esperando a hora perfeita. Mas, sim, descobrir o que é essencial para você, o que pode acrescentar mais significado e felicidade aos seus dias e correr atrás de fazer coisas que estão relacionadas a isso hoje mesmo. No fim das contas essas são reflexões mais acessíveis e gerenciáveis – e certamente menos exaustivas.
Um caminho prático para o propósito de vida
Recentemente publiquei um post aqui a respeito da filosofia Ikigai. Esse é um sistema bastante simples e prático para auxiliar na descoberta do nosso propósito de vida.
De acordo com essa filosofia japonesa, basta que descubramos o ponto de encontro entre quatro coisas:
- Aquilo em que somos bons;
- Aquilo que o mundo precisa;
- Aquilo por que podemos ser pagos;
- Aquilo que amamos.
Na intersecção dessas quatro esferas, está o nosso ikigai: o nosso propósito de vida. E é maravilhoso que sejamos capazes de trabalharmos, portanto, com algo que a gente ama, sabe fazer bem, serve ao mundo e ainda é remunerado por isso.
De novo, na prática, nem todo mundo consegue viver daquilo que ama. Contudo, isso não deveria ser um empecilho. Hoje, a tecnologia nos oferece diversas plataformas que nos permitem chegar mais perto da nossa paixão, ao mesmo tempo em que trabalhamos com algo que nos sustenta financeiramente, ainda que não nos realize.
Por exemplo, se você adora viajar mas não é pago para isso, por que não criar um canal no YouTube em que você conta sobre suas experiências de viagem, de férias e finais de semana? Com sugestões de roteiros, dicas de viagem, gastronomia local…
Ou então, se você é louco por ciclismo, mas não é um profissional do esporte, que tal fazer um perfil no Instagram com vídeos e fotos dos seus trajetos, posts com ensinamentos pra quem quer começar, lives para troca de experiências?
De repente suas paixões são vinho e a escrita. Então, você pode fazer um blog e escrever sobre seus rótulos favoritos, suas experiências em vinícolas e vinhedos, no mesmo espaço em que publica poesias e devaneios literários.
E não fique surpreso se, em algum momento, esse trabalho paralelo que alimenta sua paixão vier a se tornar, de fato, um novo negócio, uma nova fonte de renda. Qualquer conteúdo bem-feito online pode ser monetizado.
O caminho longo é o atalho
A sua paixão, aquilo que o realiza pode, sim, se tornar parte da sua realidade profissional e seu propósito de vida. Isso não parece se tornar real com frequência porque, na prática, muita gente começa, mas desiste no meio do caminho.
Apesar do que você deve ver por aí nos anúncios de internet, não existe segredo nem atalho para as conquistas e para o sucesso. O jeito é ser consistente. É dar-se a oportunidade de começar, de tentar.
Sob o ponto de vista biológico, o nosso propósito de vida é justamente crescer, aprender, evoluir, nos tornarmos pessoas melhores sempre para que possamos garantir nossa sobrevivência.
Portanto, não podemos deixar de tentar. Se o objetivo de nossa própria natureza é evoluir e adaptar-se para nos tornarmos a pessoa que queremos ser, então, certamente somos capazes de perseguir aquilo que nos faz bem, consistentemente, dedicando nosso tempo àquilo que é importante para a gente.
Só como um exemplo bem claro, esse blog que você está lendo é exatamente isso. Eu sou um apaixonado por produtividade e hábitos, mas que nunca havia feito nada a respeito. Um belo dia resolvi começar a construir esse site (que eu torço que esteja te ajudando e diversas outras pessoas com dicas e métodos que fazem sentido pra mim) e a postar consistentemente por aqui (mínimo de duas vezes por semana há quase um ano)
Vida com propósito
O grande segredo, portanto, sobre o propósito de vida, é que não existe nada “certo”. Não espere pela resposta ou momento certo para o seu propósito de vida, porque eles não existem. Existem desafios que podemos ter e emoções que podemos experimentar. Fazer as coisas que nos interessam e que nos dão prazer é, afinal, o caminho para a felicidade.
Portanto, quer você esteja procurando o trabalho dos sonhos, uma segunda carreira ou uma mudança de vida, ou seja lá qual for o motivo que está mantendo aquele “E se…” na sua cabeça, lembre-se que, mais importante do que encontrar UM propósito de vida, é criar uma vida com propósito de ser vivida.
Por isso, vai lá, se joga, não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje.
