Para você entender mais facilmente o conceito de adaptação hedônica, vamos fazer um exercício inicial: você consegue se lembrar da última vez em que sonhou comprar um carro, trocar de emprego ou encontrar sua alma gêmea? Da sensação de quanto você seria feliz assim que esse desejo se tornasse realidade? 

E depois do sonho realizado, quanto tempo, de fato, durou a tão aguardada felicidade? Se você é um ser humano padrão, provavelmente não durou muito – pelo menos não na intensidade que você imaginou.

Esse ciclo pelo qual todos nós passamos ou passaremos em algum momento da vida se chama adaptação hedônica (ou esteira hedônica, do inglês hedonic treadmill). Em palavras simples, trata-se da nossa tendência de rapidamente retornar ao nosso nível comum de felicidade logo depois de eventos extremamente positivos ou negativos.

Mas se isso é um comportamento regular do ser humano, qual a vantagem de buscar novas conquistas, se elas se tornarão “vazias” em alguns dias, ou até horas?

A adaptação hedônica é mesmo um fato. No entanto, quando temos consciência de como ela funciona, somos capazes de lidar com suas consequências negativas e reduzir os seus efeitos em nossas vidas. Vejamos.

O que é adaptação hedônica?

Segundo estudos, as circunstâncias externas não nos fazem felizes ou tristes. Ao contrário, somente 10% da nossa felicidade são por elas determinados.

Isso porque cada pessoa tem um ponto de ajuste de felicidade, que se refere à predisposição geneticamente determinada para se sentir feliz. Esse ponto de ajuste é que responde por cerca de 50% do que significa felicidade para cada um.

Portanto, conforme a teoria da adaptação hedônica, independentemente do que aconteça conosco, nossos níveis de felicidade eventualmente retornarão aos seus valores básicos. Você pode se casar ou se divorciar. Receber uma promoção ou perder o emprego. Bem ou mal, com o tempo, você retorna ao seu ponto de ajuste de felicidade.

Há, sim, um pico inicial de felicidade ou tristeza, porém, com o passar do tempo, esses sentimentos causados pelos eventos iniciais se dissipam e o hábito se instaura novamente. 

De qualquer forma, 50% da genética somados aos 10% do ambiente, não chegam a 100%, logo, há muita margem para construirmos nossa própria felicidade: sobram ainda 40% de chance determinados por nossas ações, pensamentos e atitudes.

A notícia muito boa é que há um grande número de circunstâncias internas… sob seu controle voluntário. Se você decidir mudá-las (nenhuma dessas mudanças vem sem esforço real), seu nível de felicidade provavelmente aumentará de forma duradoura.

Martin Seligman

Como superar a adaptação hedônica?

Defina metas menores

A maioria de nós tem apenas metas e sonhos de longo prazo e alto impacto, tais como se formar, perder 20 quilos ou correr uma maratona. Então, por vezes passamos anos buscando realizações que nos darão um único “pico” de felicidade. 

Uma alternativa para superar a adaptação hedônica é dividir esse grande alvo em milestones menores. Cada pequena conquista será uma nova realização e, portanto, uma nova comemoração, garantindo picos mais frequentes de felicidade.

Aproveite o caminho

Ao invés de focar apenas no resultado, que tal apreciar o processo? Ao invés de correr para publicar um livro, curta o desenvolvimento da estória. Em vez de esperar a balança marcar 70 quilos, orgulhe-se de frequentar a academia cinco vezes por semana. Se o processo não lhe der prazer, talvez o resultado final tampouco consiga.

Crie conexões sociais 

Estudos comprovam que relações sociais, sejam elas família, amizades ou sua comunidade, são os fatores mais fortes para felicidade e saúde a longo prazo. Até porque, essas serão as pessoas com quem você poderá celebrar as conquistas de metas alcançadas.

Encontre prazer no dia a dia

Pratique o mindfulness ao longo do seu dia e dê valor aos pequenos prazeres do cotidiano – um café quentinho, as risadas trocadas com seu amigo, o abraço dos seus filhos… E se parece que está faltando tempo para essas coisas, atenção! Gerencie melhor a sua agenda e separe um tempo para o que realmente importa.

Tenha um hobby

Separe um tempo para praticar alguma atividade que lhe faça bem. Leitura, culinária, jardinagem, artes plásticas… Não importa que hobby seja, desde que agregue na sua vida. Esse hábito traz muitos benefícios, tanto de curto prazo, como um sono mais reparador, até longo prazo, como uma saúde mental e cognição preservadas por mais tempo.

Escreva seu diário da gratidão

Registrar em um diário tudo aquilo por que você se sentiu grato em seu dia é uma das melhores maneiras de maximizar o impacto que as experiências positivas tem na sua vida. Esse registro potencializa seu sentimento de gratidão e de propósito na vida

Aceite suas limitações

Entenda que você é humano. Permita-se sentir. Aceite suas emoções, seus medos, frustrações, estresse e ansiedade. Respeite seu tempo, simplifique sua vida, foque em uma coisa por vez e evite fazer várias coisas ao mesmo tempo

Diga não

Descubra o que você realmente gosta de fazer, com quem você gosta de estar e diga não a todas as atividades que você não precisa cumprir e a todas as pessoas tóxicas que só sugam sua energia e consomem sua felicidade. 

A adaptação hedônica e a busca da felicidade

Enfim, segundo a adaptação hedônica, mesmo circunstâncias extremas como ganhar na loteria ou ficar paraplégico alteram nosso estado de felicidade somente temporariamente. Pesquisas comprovaram que, passado o período inicial, nos ajustamos de volta ao nosso nível “padrão” de felicidade.

No entanto, como demonstrado acima, sempre haverá formas por meio das quais podemos, de certa forma, “limitar” os efeitos da adaptação hedônica, nos engajando em atividades e transformando hábitos que podem, de fato, nos oferecer um nível maior – e mais duradouro – de felicidade.

Rafael Avila

Rafael Avila

Carioca, empreendedor, sócio fundador da LUZ, professor de Excel, consultor e um apaixonado por produtividade. Acredito no poder que temos de ser as nossas melhores versões todos os dias.

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