O Tira do Papel é uma iniciativa sensacional que eu conheci a relativamente pouco tempo e tenho acompanhado desde então. O lema por lá é de ajudar quem acompanha a tirar o seu projeto do papel respeitando sua saúde mental. E o que eu acho mais especial são as explicações visuais sobre como vencer essa insegurança de expor suas ideias online. Dá uma olhada em um exemplo:

entrevista tira do papel tiago arte no instagram

Quem toca é o Tiago, que sempre mostra várias reflexões bem legais por lá e que me agregam muito. Por isso, recomendo bastante que você siga o Instagram do Tira do Papel, acompanhe o canal do YouTube e o PodCrê, o podcast do Tira do Papel.

entrevista tira do papel tiago foto

Conhecendo um pouco mais o Tiago e o Tira do Papel

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Me conte um pouco da sua história e o que te motivou a criar o Tira do Papel?

O Tira do Papel era um projeto paralelo que se tornou meu emprego full time. Ele começou enquanto eu estava no meu emprego de designer gráfico. E eu senti quando eu comecei o Tira do Papel que eu já queria transformar ele no meu emprego em tempo integral.

Isso acabou acontecendo antes do esperado, felizmente as coisas ocorreram bem. Mas o Tira do Papel já foi iniciado com o intuito de se transformar na minha ocupação. Eu me defino muito com uma pessoa meio que curiosa e que se movimenta muito quando tá incomodado, então por mais que eu tenha me formado em design industrial, eu acabei migrando para a área de design de serviços e depois para o design gráfico, porque eu não tava contente onde eu estava.

Então dos 20 aos 30 a minha carreira foi muito isso, experimentando coisas dentro da área de design e por projetos paralelos que eram as formas que eu tinha de me duplicar, praticar e aprender coisas que eu não poderia aprender no meu emprego formal.

O Tira do Papel foi um resultado desse processo e também o resultado de um processo muito grande de perder o medo de me expor e de mostrar o que eu sou e o que eu penso. Eu sou uma pessoa que tinha muito medo de mostrar minhas ideias online e muito muito medo de aparecer. E se hoje em dia eu faço isso, foi por muito treino e por que o Tira do Papel foi um processo de aprendizagem pra mim nesse sentido e hoje me dá um prazer enorme poder ajudar diversas pessoas a fazer o mesmo.

Quais foram os principais desafios que você teve ao começar?

Em relação aos maiores desafios, existia um desafio prático que era conciliar o meu projeto paralelo na época, o Tira do Papel com o meu emprego integral. Isso foi possível porque eu fui uma pessoa muito organizada em inserir hábitos na minha rotina, ao redor desse cenário.

Além disso teve um desafio emocional psicológico que era eu fazer uma coisa que eu nunca tinha feito antes né. Que era tentar transformar o meu projeto paralelo em um negócio, expor minhas ideias online, aparecer na frente da câmera, fazer uma série de coisas que estão desconfortáveis para mim naturalmente. Eu não sou uma pessoa que é super de boa de fazer uma sessão ao vivo, gravar um podcast, etc.

Hoje elas estão mais fáceis para mim porque eu treinei, mas elas ainda me drenam muita energia, muito mais do que uma pessoa extrovertida por exemplo. Então teve esse teor psicológico e emocional de expandir a minha zona de conforto nesse sentido.

Quais são as maiores dificuldades que quem te acompanha pergunta pra você? E quais suas dicas para eles?

Sobre as questões que as pessoas me trazem no Tira do Papel, a maioria das questões são coisas que eu tive que enfrentar no passado. Coisas como o medo da exposição de ideias, receio de mostrar o seu trabalho, receio de falar sozinho, que é uma série de coisas que na maioria delas são psicológicas, não são nem práticas. É muito sobre você estar criando e se manter uma pessoa motivada a criar, se manter constante e não ter medo de expor seus pensamentos.

A maioria das vezes quando a gente procura conselhos sobre isso online, o que você encontra são aquele clássico “vai lá e faz” ou as frases motivacionais. Nenhuma dessas coisas eram práticas para mim e eu precisava de alguma coisa no meio delas, algo que fosse pragmático suficiente para eu colocar a mão na massa executando, mas que respeitasse o meu tempo e ritmo.

Eu só encontrei isso dentro da filosofia, psicologia, da ciência de hábitos, da produtividade e eu comecei a fazer uma compilação de ideias para ajudar as pessoas com muitos dos problemas que eu mesmo senti no passado.

Como surgiu a parceria (com o Lucas do Bota na Rua) para criar o PodCrê (seu podcast) e como vocês decidem quais temas abordar para falar por lá?

Eu entrei em contato com o Lucas há muito tempo atrás porque eu escutei ele falando em outro podcast sobre depressão. Eu achei muito interessante a forma como ele resumiu a depressão, como explicou o assunto de maneira muito didática e aquilo me impressionou.

Então eu entrei em contato com ele e fiquei acompanhando o trabalho dele até que um dia surgiu essa conversa entre a gente. Na época eu tava vendo umas coisas que ele estava publicando no blog pessoal e aí surgiu essa ideia de fazer alguma coisa juntos.

Surgiu a ideia de ser um podcast e é um podcast que está rolando aí até agora. Já temos (hoje) 24 episódios gravados quinzenais e tô curtindo muito o processo de fazer.

Sobre a decisão dos temas é uma coisa muito fluida. Na verdade todo o processo do podcast é muito fluido. Nós não fazemos script e o máximo que acontece é a gente saber do tema um pouquinho antes do dia de gravar. Chega no dia e discutimos alguma coisa, começamos a falar por uma hora antes de gravar para encontrar uma forma de empacotar e começa.

É uma coisa super espontânea e é muito legal porque acabou virando um pilar de como criar outros conteúdos, assim acabamos usando o PodCrê para criar outros conteúdos mais quadradinhos e completos. Embora muitas vezes saia até uma coisa empacotada bonitinha por a gente complementar o que o outro fala.

Recentemente você criou um canal no YouTube, como tem sido criar conteúdo para uma nova plataforma?

Sobre a criação no YouTube está sendo bem desafiante, porque é uma mídia que não é a minha mídia mais fluente, que é a mídia de vídeo.

Porém eu entendo porque isso é importante pra mim pelos meus objetivos no futuro. Sei que não é um projeto de curto prazo, então de certa forma eu vejo certa beleza nele de ser algo que estou plantando agora para colher mais tarde.

Está sendo desafiante por ser uma coisa que toma mais tempo, mas ao mesmo tempo é mais tempo investido do que a criação para o Instagram. No Instagram eu demoro 40 minutos para criar um post que vai durar dois dias sendo entregue organicamente, sem anúncios.

Enquanto no Youtube um vídeo que eu vou demorar um dia para fazer talvez dure 2 anos, 3 anos. É basicamente uma forma nova de alocar os meus recursos, que por enquanto tem me drenado muito, mas que eu sei que a quantidade de energia gasta tem diminuído. Conforme eu vou criando esse hábito, para cada dia que passa eu gastar menos energia, está se tornando um processo bem legal e prazeroso.

E pra mim introduzir o YouTube é a prova viva do que eu acredito muito de como você pode deixar o seu processo o mais fluído possível. Eu sei que eu vou precisar criar 100, 200 ou 300 vídeos se eu quiser que o projeto dê certo.

Meu foco não é fazer o melhor vídeo do mundo ou fazer a coisa mais perfeita, mas criar um processo que vá me permitir criar 100, 200 ou 300 vídeos. E essa é a parada mais desafiante que existe na minha opinião, pois a maioria das pessoas não consegue fazer isso. Essa constância é muito desafiante. E não só a constância, mas a que você curte o processo que está criando. Pois é muito difícil seguir fazendo, mesmo que esteja funcionando, se você não curtir o processo.

Tem algum outro projeto além do Tira do Papel? Se sim, qual?

No momento eu não tenho nenhum projeto além do Tira do Papel. Essa é uma coisa que eu me perguntei recentemente, porque o Tira do Papel era o meu projeto paralelo.

Então a minha tendência é pensar em criar projetos paralelos totalmente independentes ou criar irmãozinhos para o Tira do Papel.

Por agora eu não tenho nada no horizonte e tudo que eu pensei de ideias já estão sendo implementadas no Tira do Papel, mas pensando em uma outra forma de ver, eu consideraria o PodCrê como um projeto paralelo. Ele é uma coisa conjunta com o Lucas do Bota na Rua, então consequentemente acaba se tornando um projeto paralelo.

Vida Produtiva

O que é produtividade para você?

Que pergunta difícil. Eu diria que é o sistema que desenvolvemos para nós mesmos de alocação de tempo e energia para conseguir executar tarefas. Isso se aplica tanto ao curto prazo como ao longo prazo. De um nível mais macro para um mais micro. Do nível mais estratégico para um nível mais tático. Desde tarefas pequenas e rápidas até pensamentos mais profundos focados no futuro.

Eu diria que é assim que eu vejo produtividade. Eu não sei até que ponto é uma boa definição, mas isso foi literalmente a que eu consegui pensar e fiquei curioso para voltar nisso daqui em alguns anos.

Como é um dia ideal de trabalho para você no Tira do Papel?

É um dia onde eu não tenho aquele sensação de “putz, eu tenho muita coisa para fazer”, sabe? Porque é muito fácil você ficar pensando em tudo que você tem que fazer e sempre vai ter alguma coisa para fazer. Sempre vai.

Então um dia bom de trabalho é um dia em que eu tenho muita noção do que eu poderia ter feito naquele dia, que eu curti o processo de fazer aquilo e eu tenho a sensação de progresso com eu fiz o que poderia ser feito hoje.

Porque eu acredito que muita da nossa ansiedade com o trabalho venha dessa constante cobrança de poderíamos ter feito mais e da noção de quem sempre vai ter alguma coisa para fazer.

Por isso é muito importante ter a ideia das nossas fronteiras sabe? Neste dia eu vou executar isso, amanhã eu vou fazer aquilo e no final de tanto tempo eu vou ter construído tal coisa. Acredito que essas fronteiras sejam tão importantes para não termos ansiedade ao trabalhar.

Qual o principal desafio relacionado à produtividade no seu trabalho com o Tira do Papel hoje?

O maior desafio é que o Tira do Papel está com algumas frentes novas que não dependem só de mim. Isso é uma coisa nova no meu projeto. São frentes que não são só criativas, que envolvem pensamento em administração e são novas como um todo.

O que é novo assusta e pode fazer procrastinar. Então estou nessa fase muito consciente da minha procrastinação, observando como ela está acontecendo e entendendo como eu posso agir para melhorá-la e não deixar ela me atrapalhar meus recursos de energia e tempo, minha produtividade e ao mesmo tempo ser empático comigo.

Acho muito importante trabalhar e se esforçar, mas também acho muito importante respeitarmos nossos limites para curtir o processo que estamos fazendo. Eu sei que parece papinho de abraçar árvore, mas eu genuinamente acredito nesse lance de curtir a jornada e não ficar esperando chegar em algum ponto para curtir. Então eu me questiono demais sobre isso.

E o que tem feito para superá-lo?

Eu tenho observado como eu me sinto e como eu tenho trabalhado. Porque na minha opinião produtividade é um processo que envolve muito auto conhecimento e muita empatia.

Porque não é uma questão de pegar uma fórmula e aplicar, mas entender dentro de um set de ferramentas, possibilidades e técnicas que você pode aplicar, quais mais fluem para você, para quais ocasiões e em quais momentos.

Então no momento eu estou observando muito como eu funciono. Por exemplo, eu sentei em um final de semana para refletir sobre como minha semana fluiu e pensei “Tiago, você tá muito errado, cara. Você fechou a semana estressado, não foi bom e você não progrediu tanto nessa frente aqui, que que tá acontecendo?”

Ai eu comecei a reparar que eu estava procrastinando demais o que eu estava com medo de fazer, mas a perda de não fazer e o estresse estão sendo mais prejudiciais do que eu fizesse e ficasse mais desconfortável ao fazer.

Pra mim esse tipo de observação é muito bonita porque você começa a entender que o incômodo de procrastinar algo está tão grande, que talvez fazer seja o melhor o caminho. E assim eu aprendi um pouco mais sobre mim e as semanas seguintes foram muito melhores.

Foi muito interessante observar. Faço muito esse trabalho de não ficar me culpando e de olhar para trás e entender o que deu certo e o que não deu e o que eu posso mudar. Porque só eu posso fazer isso.

Usa alguma técnica ou método para ser mais produtivo e se organizar?

Não utilizo nenhuma técnica ou método para me organizar. Não tenho nada formal ou etiqueta do tipo “eu uso GTD ou blá”. Eu simplesmente conheço muitos princípios de produtividade e uso pedaços de cada um conforme vai fazendo sentido.

Eu diria que é um processo muito intuitivo. No entanto eu parto da intuição para sistematizar o que faz sentido. Eu definitivamente não sou uma pessoa que começa de um sistema, vou mais espontaneamente e, nesse processo eu vou notando padrões e tudo que eu posso sistematizar e agilizar, eu faço. Pois quanto mais eu tenho um processo, mais espaço eu tenho para criar e fazer coisas diferentes e novas.

Recomendações

O que você está lendo ou que livro(s) recomenda?

Nesse momento eu estou lendo o Fim da Procrastinação, do Peter Ludwig. É um livro que eu demorei muito para começar a ler porque eu detesto o título.

Eu não acredito que você possa parar de procrastinar e eu tenho certeza absoluta que o autor pensa a mesma coisa. Então me frustra um livro que é muito bom, excelente, pois resume muito bem muitos conceitos, mas que tem um nome tão ruim.

Eu estou gostando muito desse livro e o próximo que eu vou ler é o Call me By Your Name, que é uma ficção que inspirou o filme de mesmo nome.

Indique 3 ferramentas (apps, softwares ou gadgets – online ou offline) que você não pode viver sem

Papel e Caneta eu vou contar como um, porque eu penso muito offline. Eu penso que quando estou estrategizando, prefiro perder tempo escrevendo e estando mais presente, sem possibilidade de me distrair.

Prefiro fazer isso e pensar escrevendo mais devagar, mas ganhar mais espaço mental. Até porque eu desenho muito pensando, eu não só escrevo. As pessoas se comunicam muito por escrita e tem muitas coisas que são muito visuais.

Uma outra ferramenta que eu indico é o Notion. Eu não sei se alguém que está lendo teve dificuldade no início do seu uso, mas eu sou uma pessoa que faz muito mimimi com ferramentas, faço muito draminha para aprender e eu me assustei um pouco no começo, mas posso falar com certeza que vale muito a pena se aprofundar e desenvolver.

Não vou indicar uma terceira, porque essas são as duas únicas que me vem na cabeça e não acredito que seja tão necessário assim inserir outra coisa. A não ser que você tenha um caso muito específico que você precise de outra coisa. Só essas duas são uma abordagem essencialista.

Quem você adoraria ver respondendo essas mesmas perguntas?

Eu amaria ver a Ana do Eu Organizado, que é um blog que eu não sei se você conhece, mas eu amaria ver as respostas dela. Eu fico super curioso como ela define produtividade.

Conheço sim e você pode conferir a entrevista que é sensacional por aqui 😉

A Ana tem uma cabeça incrível e uma visão muito empática para a organização e gostaria de ver respondendo essas perguntas

Quer adicionar algo para os leitores do Sua Produtividade?

Gostaria de acrescentar que no mundo de hoje onde consumimos muitas informações e tentamos replicar muitas fórmulas ter um cuidado com o que realmente importa para a gente.

As pessoas estão cientes das nossas vulnerabilidades em termos de gatilhos. Marqueteiros utilizam gatilhos para fazer vendas. As redes sociais nos fazem nos comparar com outras pessoas. Nunca foi tão fácil se comparar e nunca foi tão fácil comprar ideias de perfeição e fórmulas que vão te levar para o sucesso.

Mas pra mim, produtividade é um processo de autoconhecimento. É muito menos tentar replicar algo e mais de tentar entender o que aproveitar. O que eu quero dizer é que tá tudo bem testar fórmulas, mas o importante mesmo não é pensar “não deu certo, sou uma pessoa ruim”, mas de ter empatia e autoconhecimento primeiro e de usar isso como uma fundação para todas as técnicas e coisas que você pode empilhar em cima dessa fundação.

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Rafael Avila

Rafael Avila

Carioca, empreendedor, sócio fundador da LUZ, professor de Excel, consultor e um apaixonado por produtividade. Acredito no poder que temos de ser as nossas melhores versões todos os dias.

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