Eu acredito que ser feliz sozinho e estar bem nessa condição é um dos pré-requisitos para encontrar felicidade em outros relacionamentos, no trabalho ou em qualquer coisa que a gente faz.
Tenho pensado nisso porque nos últimos tempos, principalmente por causa da pandemia, mas não só por causa dela, vejo muitas pessoas vivendo uma espécie de “crise da solidão”.
Como somos seres sociais, ou seja, pessoas que precisam de outras pessoas, começamos a entender que passar muito tempo sozinho (ainda mais quando somos obrigados a isso) pode ser prejudicial.
Por outro lado, com frequência nos pegamos cansados da interação social do dia a dia e queremosndo passar algum tempo apenas na nossa própria companhia, em nossa casa ou qualquer outro espaço que consideremos um refúgio.
Mas então, qual é “a melhor opção” para ser feliz sozinho?
Na verdade, não precisamos optar. Porque estar sozinho não tem necessariamente a ver com estar infeliz. Estar só e sentir-se só não são tipicamente a mesma coisa e, portanto, não definem o nosso conceito de felicidade.
Mas o que é felicidade?
Felicidade é um estado emocional, caracterizado por sentimentos de realização e alegria. Envolve emoções positivas e satisfação com a vida que se tem. No entanto, por se tratar de uma sensação de bem-estar subjetiva, cada pessoa pode ter o seu próprio conceito de felicidade. De uma forma ou de outra, a felicidade é composta por dois elementos:
- Equilíbrio emocional: todos vivemos sentimentos positivos e negativos todos os dias. Mas a sensação de felicidade está ligada ao fato de experimentarmos mais emoções positivas do que negativas.
- Satisfação com a vida: trata-se de quão satisfeitos nos sentimos nas diferentes esferas de nossa história, seja trabalho, relacionamento, realizações pessoais etc.
Alguns sinais de estar feliz sozinho incluem sentir que você está vivendo a vida que gostaria ou pelo menos que está satisfeito com quem você é e o que tem. Ou perceber que as suas condições de vida são boas e que você já conquistou muitas coisas interessantes. Em resumo, olhar para si e ver mais coisas positivas do que negativas.
Entretanto, é importante destacar que estar feliz sozinho não é um estado de constante euforia e satisfação, até porque não realizamos feitos ou concluímos projetos o tempo todo.
Portanto, felicidade é experimentar todo o grande leque de emoções humanas (incluindo raiva, frustração, solidão e tristeza, de vez em quando), porém, mesmo assim, ter aquele sentimento de que as coisas vão melhorar, que você consegue lidar com isso, que você é capaz de ser feliz sozinho cotidianamente.
No fim das contas, felicidade não é sobre a linha de chegada. Não é sobre alcançar uma meta atrás da outra. É, sim sobre apreciar o caminho. Sobre explorar cada etapa da jornada que enfrentamos para um dia alcançar as tais metas. E, muitas vezes, teremos que andar parte dessa estrada sozinhos.
Estar sozinho é diferente de estar solitário
Semanticamente falando, sozinho e solitários podem parecer sinônimos. Ambos se referem a alguém que está sem a companhia de outras pessoas. Ao estado de estar só, sem ninguém junto de si.
Contudo, estar sozinho e estar solitário não são a mesma coisa. Solitário nos remete ao sentimento de tristeza causado pelo fato de não ter ninguém ao seu redor. Sozinho define a condição de estar, de não ter ninguém ao redor.
Em outras palavras, estar sozinho é uma escolha de estar fisicamente distante de outras pessoas. Enquanto estar solitário é uma consequência da solidão emocional. Por isso mesmo, podemos nos sentir solitários até estando rodeados de gente.
Por outro lado, muitas vezes as pessoas que vivem sozinhas por escolha se tornam independentes e confiantes, e gostam de explorar suas paixões e habilidades, ao invés de ficar reclamando da vida e sendo pessimistas.
Qualquer um pode ser perfeitamente saudável e ser feliz sozinho, desde que esteja conectado consigo mesmo e com as pessoas que tem na sua vida.
Dicas de curto prazo para ser feliz sozinho
Exercite-se
Exercícios físicos são bons para sua mente e corpo. Inúmeros estudos comprovam que a atividade física melhora o humor, traz uma sensação de bem-estar, combate a depressão e aumenta os níveis de satisfação emocional.
Se você nunca praticou nada, comece com apenas alguns minutos por dia. Nem que seja um alongamento em sua rotina matinal. Quando ganhar confiança, vá correr, pedalar, fazer musculação, ioga ou aquilo com que você se identificar mais.
Agradeça
As pessoas que conscientemente demonstram gratidão por aquilo que têm costumam ser mais positivas e mais felizes com suas vidas. Por isso, é interessante manter um diário da gratidão. Durante sua rotina noturna, escreva ou, se não gosta de escrever apenas pense a respeito de todas as coisas pelas quais você é grato em sua existência.
Fique um tempo fora das redes
Não é a mídia social que é o problema. Mas se o que você vê quando rola a tela lhe causa estresse ou frustração, melhor se afastar um pouquinho. O feed não mostra toda a história de ninguém. Você não faz ideia se aquelas pessoas são realmente felizes ou apenas dão essa impressão.
Tente ficar 48 horas afastado das redes sociais. Se isso lhe fizer bem, tente dar-se um limite diário de cerca de 15 minutos conectado, por exemplo.
Desligue o seu telefone
Sim, se estamos falando sobre ser feliz sozinho, você não pode simplesmente pegar o seu telefone o tempo todo para ligar ou escrever uma mensagem. A tecnologia é ótima para nos dar a sensação de proximidade a quem amamos, mas também é um jeito de fugirmos da responsabilidade de estarmos sós com nossos próprios pensamentos.
Assim, da próxima vez em que você estiver sozinho, tente desligar seu smartphone por uma horinha. E use esse tempo para exercitar seu mindfulness e explorar como é estar complemente só.
Deixe sua mente divagar
Experimente sentar-se por cinco minutos sem fazer absolutamente nada. Sem televisão. Sem música. Sem internet. Sem livros. Sente-se ou deite-se em um local confortável, feche seus olhos e deixe sua mente ir. E veja aonde ela o leva.
Leve-se para sair
Sair sozinho é uma ferramenta poderosa para aprender a ser feliz sozinho. Se você não souber o que fazer ou para onde ir, imagine que você está querendo impressionar alguém muito importante e pensa para onde você levaria essa pessoa.
Então, leve-se. Poderá parecer estranho no início, mas será mais confortável depois. Se for difícil para você, comece com uma ida de dez minutinhos a um café.
Passe um tempo na natureza
Saia de casa. Deite no quintal, caminhe no parque, assista a uma queda d’água. Absorva as imagens, os sons, os cheiros. Sinta o sol e o vento. Faça isso por pelo menos 30 minutos por semana e veja a sensação de bem-estar que lhe causa.
Dicas de longo prazo para ser feliz sozinho
Estabeleça metas pessoais
Alcançar metas que você está particularmente motivado a perseguir, especialmente aquelas de crescimento pessoal, podem fomentar a sua felicidade muito mais do que metas voltadas para conseguir dinheiro ou status, segundo pesquisas.
Transforme pensamentos negativos
Quando você perceber que está preso em sentimentos pessimistas, procure por jeitos de olhar para a situação sob outra perspectiva, mais otimista.
O ser humano tem uma tendência de prestar mais atenção às coisas ruins do que às boas. Reformular essa percepção não se trata de ignorar o problema, simplesmente de aplicar uma ótica mais realista: tem o lado ruim, mas, sim, tem algo positivo em tudo.
Não se compare
Tente não se comparar com as outras pessoas. Primeiro porque o que funciona para uma pessoa não necessariamente dá certo para outra. Segundo porque você não conhece a fundo a vida de ninguém mais além da sua.
Muito possivelmente, se você conseguisse enxergar a vida do outro de perto, escolheria a sua, porque você já sabe como lutar as suas batalhas, mas não tem noção de como encarar as dele.
Encontre seu propósito
As pessoas que sentem que têm um propósito na vida costumam se sentir mais motivadas e realizadas. Mas isso não significa esperar pelo propósito de vida perfeito. O senso de propósito pode simplesmente envolver algumas metas e um direcionamento com significado.
Um bom jeito também de fazer isso é aplicar a Filosofia Ikigai, segundo a qual, para encontrar seu propósito, você deve buscar algo que some:
- Aquilo em que você é bom;
- Aquilo que o mundo precisa;
- Aquilo por que você pode ser pago;
- Aquilo que você ama.
Cultive relacionamentos
Conforme você for se sentindo confortável em ficar sozinho, você pode se pegar passando menos tempo com outras pessoas. Isso não é necessariamente problemático, mas conexões sociais ainda são fundamentais.
Organize-se para visitar ou telefonar para sua família, ver seus amigos ou sair com os colegas de trabalho para um happy hour.
Cuide da sua saúde
A saúde física pode afetar a saúde emocional e vice-versa. Alimente-se bem, exercite-se regularmente, tenha uma boa noite de sono. Além disso, faça um exame de saúde anualmente, para checar como estão suas condições físicas.
Faça planos
Onde você quer estar em cinco anos? E em dez? O que você precisa fazer para que esses planos virem realidade? Escreva seus planos em algum aplicativo de anotações e revise anualmente para conferir se você está no caminho certo.
Aproveite o momento
As pessoas tendem a focar-se tanto em acumular bens que elas perdem a noção do que de fato estão fazendo. Então, ao invés de ficar correndo atrás de sempre mais, mais, que tal praticar a gratidão por tudo aquilo que você já tem e apreciar o processo de buscar novas conquistas?
Não tenha medo de pedir ajuda
Às vezes, a gente não consegue ser feliz sozinho. E está tudo bem também. Você tem amigos e pessoas que você ama – e que amam você – que estão aí ao seu lado, para dar apoio e afeto.
E não pense que você precisa de muita gente ao seu redor, não. Nesse quesito, qualidade é muito mais valioso do que quantidade. Ter poucos amigos próximos impactará sua vida muito mais fortemente do que ter um monte de conhecidos.
Além disso, pode ser que a sua sensação de solidão, em algum momento, venha a lhe causar ansiedade ou sentimentos deprimentes. Se isso permanecer, pode ser o caso de buscar ajuda profissional.
Não hesite em procurar um psicólogo ou psiquiatra em casos de isolamento, abuso de drogas e álcool, descuido com a própria saúde ou aparência, e outros casos semelhantes.
