É muito comum procurarmos brechas ou desculpas para nos afastarmos de nossos hábitos positivos, principalmente quando estamos no processo de implementação e ainda não temos uma rotina solidificada.
Essas brechas comportamentais costumam ser pequenas oportunidades que temos de justificar a interrupção de um hábito que estamos tentando implementar.
Apesar de pequenas, essas brechas podem ser justamente as ações que te afastam de um novo hábito para sempre e, por isso, vale a pena entender um pouco mais delas e de como se preparar para evitar que esses momentos aconteçam.
O que são brechas
De acordo com o Dicionário Online de Português, brecha tem alguns significados:
- Qualquer abertura numa superfície; espaço vazio; lacuna
- Ferida larga e profunda feita com objeto cortante ou contundente
- [Figurado] Espaço não preenchido; lacuna
- [Figurado] Tempo ocioso em que não se faz nada; férias
- [Figurado] Circunstância oportuna; ocasião, ensejo, possibilidade
- [Figurado] Qualquer tipo de dano; prejuízo
- [Geologia] Conglomerado formado de elementos angulosos
- [Geologia] Depressão numa cadeia de montanhas que serve de passagem
Para o fim do artigo de hoje, eu quero me focar no sentido figurado em destaque acima, uma circunstância oportuna, uma ocasião ou possibilidade de “fugir” de um hábito que você está tentando implementar. A partir de agora vou me referir à esses momentos como brechas de hábitos.
Brechas de Hábitos
Essa ideia de brechas de hábitos eu li no livro Melhor do que Antes, da Gretchen Rubin e fez muito sentido pra mim.
Em vários momentos passados em que eu estava construindo um novo hábito já passei por inúmeras situações (brechas) onde eu dei uma pequena desculpa (que na hora fazia sentido pra mim) para simplesmente me desviar do caminho que eu queria seguir.
Essa talvez seja a maior perversão da brecha, ela é uma desculpa que na sua cabeça e naquele momento faz todo sentido, afinal de contas, você merece comer aquela pizza com borda de catupiry depois de ter feito os seus exercícios focado, não merece? Ou então só hoje deixar de lado tudo que deveria fazer para passar a tarde assistindo uma série nova, até porque a semana passada inteira foi super corrida né?
Não estou aqui para ser o “chato” que defende os hábitos acima de tudo. Acredito de verdade no equilíbrio e isso também envolve se dar seu tempo para o que você quiser, mesmo que vá contra os seus hábitos em algum momento, só não vejo com bons olhos quando nos “enganamos”.
Por isso mesmo quero explorar as 10 brechas listadas pela Gretchen Rubin no livro dela, assim você entende quais são as armadilhas que a sua mente pode te proporcionar e se prepara para elas.
As 10 Brechas de Hábitos Positivos
Não existe ordem de importância nessa lista, dependendo da sua personalidade ou do momento que você estiver vivendo, uma ou outra pode ser mais comum.
Brecha da licença moral
Essa é a brecha onde nos damos a permissão para fazer algo ruim por termos feito algo bom. Pode ser desde comer uma besteira ou tomar um refrigerante depois de fazer um exercício até se permitir comprar uma coisa que você não precisa de verdade depois de economizar um dinheiro.
O grande problema dessa brecha é que ela joga muito contra o que você está tentando construir.
Brecha do amanhã
É quando você deixa de fazer hoje o que precisa porque vai começar amanhã (ou depois do final de semana). Essa brecha tem uma relação muito próxima com a procrastinação.
Alguns exemplos dessa brecha é comer tudo e mais um pouco hoje porque amanhã você vai começar a dieta ou deixar de fazer uma parte do seu trabalho de conclusão de curso porque é rapidinho e no dia seguinte dá para terminar.
Brecha da falsa escolha
Deixar de fazer algo colocando a culpa em outra coisa. É muito comum pessoas que tem listas de tarefas gigantes onde você só faz o fácil e procrastina o difícil para depois.
A desculpa é convincente, você passou o dia “ocupado”, mas a verdade é que precisa se questionar se a sua escolha foi em direção ao mais importante ou se você só se ocupou com coisas pouco importantes ou apagando incêncios.
Brecha da falta de controle
Essa é a brecha onde colocamos a culpa no mundo, nos outros ou em qualquer fator externo.
A verdade é que normalmente temos muito mais controle do que dizemos ter. Mesmo em situações que a decisão não depende exclusivamente do seu esforço, é bem provável que você possa fazer uma série de coisas que ajudarão no resultado final.
Um exemplo simples é uma promoção no seu trabalho atual. Você pode falar para si mesmo que é uma decisão que depende exclusivamente da opinião do seu superior, mas existe uma infinidade de coisas que você pode fazer para facilitar a decisão sem jogar a culpa apenas em fatores externos.
Brecha de planejar o fracasso
Já começamos pensando em quando e como vamos errar. Essa brecha de hábito tem muita relação com crenças limitantes que podem te paralisar sem você mesmo tentar colocar um novo hábito em sua rotina.
Quantas vezes você já não falou para si mesmo ou ouviu alguém falar que não vai nem tentar porque não sabe fazer uma coisa ou que não é bom mesmo, então de que adianta fazer em um primeiro momento?
Brecha do “isso não conta”
Essa é uma brecha que ocorre quando você “se engana” deliberadamente dizendo que uma ação que vai contra um hábito que está tentando construir “não conta” por algum motivo qualquer.
Um exemplo é alguém tentando economizar dinheiro falar que vai gastar um valor alto em uma roupa nova que ela não precisa (e que isso não conta como interrupção do hábito) porque é para o aniversário de uma grande amiga.
Aqui é quando você inventa qualquer tipo de desculpinha para deixar de fazer o que precisa ser feito. Pode ser desde o cansaço e preguiça até a priorização de tarefas ou demanda externa.
Brecha da preocupação com os outros
Essa é a brecha quando você deixa um hábito de lado usando a preocupação com amigos ou familiares como desculpa.
Alguns exemplos simples são o de deixar de ir na academia porque o amigo que ia sempre com você se machucou ou parar de fazer um curso ou estudar porque precisa dar atenção para algum familiar que está com algum problema.
Brecha da falsa autorrealização
Aqui você dá como desculpa o fato de você merecer algo, ou seja, por ter feito muito de uma coisa, se dá a “carta branca” para abandonar todos os hábitos bons que construiu com o tempo.
Brecha da “moeda a mais”
Essa é uma das piores brechas de hábitos. Nela você evita realizar trabalhos pequenos porque não acha que eles são “relevantes”. Ou pior ainda, aceita um hábito ruim se dizendo que é só “dessa vez”.
Eu acredito demais na “moeda a mais” no cofre. Cada ação que realizamos (ou deixamos de realizar) conta um pouquinho mais na formação de quem queremos ser e quanto mais fazemos, mais esses hábitos vão moldando suas ações.
Como evitar que as brechas te atrapalhem
Como você deve ter percebido, essas 10 brechas de hábitos podem e costumam ser um dos grandes vilões que atrapalham muitas pessoas a implementar novas rotinas e hábitos.
Um outro problema é que nem sempre essas brechas aparecem sozinhas. Por vezes você pode perceber uma, mas cair na armadilha de alguma outra que está ocorrendo ao mesmo tempo. Por isso, estar atento e cuidadoso com os seus hábitos é o melhor caminho para seguir uma vida de conquistas e alinhada com quem você quer ser.
Na minha opinião, a identidade pessoal e clareza é uma das armas mais fortes no combate às brechas dos hábitos. Quando você sabe que você é quem você quer ser, tem mais força de vontade e toma melhores decisões em relação ao que fazer, evitando as brechas.
A verdade é que nesse momento você nem tem mais interesse em conseguir desculpas que te permitam se afastar de seus hábitos, porque na sua mente você já é uma pessoa que faz exatamente aquilo que se propôs a fazer.
Mas como ninguém é de pedra, pode ter uma situação ou outra que fuja um pouco do seu controle. Nesses casos, se preparar para essas brechas com a técnica do “Se… Então” pode ser uma boa.
É muito simples, você já se prepara para caso uma determinada situação aconteça e pensa exatamente o que vai fazer a respeito quando acontecer.
